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Pedido Divulgação

A pedido de um estudante da nossa casa publicamos agora uma carta aberta dirigida aos nossos colegas, ao Presidente da AEFMUP e aos Presidentes das Comissões de Curso.

Fica aqui a transcrição com as devidas desculpas pela perda de formatação:

Victoriano PJ Costa

Mimed08285@med.up.pt

FMUP

Caríssimo Colega Presidente da AEFMUP;

Caros Colegas Responsáveis das Comissões de Curso.

AEFMUP – Porto

Porto 23 de Fevereiro de 2011.

Assunto: Clima Cordial nos locais de estudo na FMUP (Sala de Estudo Professor Doutor Joaquim Pinto Machado, e Espaços da Biblioteca da Faculdade).

C/ conhecimento aos Exmºs Senhores Director da Faculdade de Medicina do Porto e Directora do Curso de Mestrado Integrado em Medicina da FMUP, respectivamente Professor Doutor Agostinho Marques e Professora Doutora Maria Amélia Ferreira.

Caríssimos.

Queiram primeiramente aceitar os meus mais reverenciados gestos, fruto da minha elevada estima e consideração a todos vós.

Ao dirigir-vos desta feita, reitero a um assunto que já venho lamentando desde a minha entrada a esta Faculdade, que tem prejudicado imenso não só a mim (quase certo), e do qual já tive uma conversa abrangente com o presidente da AEFMUP, mas creio só se poder algo fazer no sentido de alterar o seu cenário (triste no âmago do meu entender) se houver sensibilização mais generalizada possível, ao nível da comunidade que utiliza a faculdade, mormente os caríssimos colegas estudantes.

Convém que se saliente que, sendo esta Faculdade de Medicina do Porto uma escola centenária, com tão elevado prestígio não só dentro do nosso país como também fora dele, estando os estudantes de Medicina da FMUP entre os melhores que existem ao nível nacional, fica a incredulidade que se retumba face ao que se verifica nesta perspectiva.

Permita-me que vos diga, é difícil traduzir o clima vivido nos espaços referidos. Como membro desta comunidade e estudante de Medicina na FMUP, tenho dificuldade enorme em entender, e muito mais ainda de admitir a existência deste cenário. Mas é real.

Efectivamente o clima de ruídos, de desconcertação, e de claríssima ausência de sentido de responsabilidade e de bom senso mormente por parte dos colegas, não todos, felizmente, mas boa parte, seguramente, não é coadunável com o espírito de investigação e de trabalho responsável e sério que supostamente devemos adoptar e proliferar no nosso dia-a-dia, e em suma nas instalações da nossa Mui Nobre Faculdade.

São vezes muito repetidas em quase todos, senão mesmo todos os dias, que precisando eu obviamente de usar os espaços já referidos, e que sou forçado a chamar a atenção dos colegas para a noção que têm que ter do espaço em que se encontram, tal é a conversação que se estabelece como se em plena esplanada ou café vulgar. Umas vezes, muitas vezes, são mesmo telemóveis e conversas a estes, passos estridentíssimos de “sapatos alheios”, sem qualquer consideração e respeito por quem quer simplesmente estudar, investigar, isto é trabalhar no objectivo que nos une cá todos que é sermos médicos um dia.

Há colegas que uma vez alertados enternecidamente entendem e pedem desculpa, retomando-se o clima cordial. Outros, volta e meia, repetem o cenário e a desordem, quase numa mensagem de “isto não é nada comigo”. É assim inclusive em muitas aulas teóricas e também práticas (pelo menos da minha parte e por este motivo tomei a sabia decisão de, de agora em diante, desenvolver os meus estudos sem ter que ir a muitas delas). E a moda do “incomode-se o próximo”, pouco agradável é certo, vai-se estabelecendo. Convenha-se que não se entende nem é sequer aceitável tal moda ser prática, sobretudo na Biblioteca onde estão os livros que forçosamente muitos precisam, querem ou têm que aceder.

Muitos saberão o regime porque acedi ao curso de medicina nesta faculdade. Talvez ainda a minha idade que não é igual a de muitos que estão nos mesmos anos do curso que eu. Esta comunicação não é assinada senão por mim. Mas é quiçá com muito boa probabilidade que boa parte dos que se sentem injustiçados e incomodados com o que venho agora abordar não perderiam provavelmente a oportunidade de subscrever o assunto. Em verdade, numa casa onde estão os melhores do nosso país, deve primar por mostrar o seu melhor em comportamento para com os demais colegas (o conjunto dos estudantes saliente-se), mormente nos espaços mais públicos dentro dela, a par de toda uma vida que pode ser também e perfeitamente de alguma diversão, folia, momentos de alguma descontracção, aspectos que até me entusiasmam de fundo e acreditem, mas nunca confundindo os locais adequados para tal. A biblioteca, as salas e os locais de aulas e de estudo, devem ser espaços de máximo silêncio e de sentido de responsabilidade. E está obrigado a uma boa noção deste aspecto um e qualquer estudante de medicina, já que a noção cabal daquilo que é saúde é e deve ser facto no seu dia-a-dia, algo que se prolonga até ao fim do exercício da profissão do médico, senão mesmo da vida deste, seguramente. No início da esfera dos direitos dos outros, começa a esfera dos deveres de alguém e vice-versa. Não há direitos sem deveres, é facto. Numa sala de estudo ou numa biblioteca os nossos deveres são tão incontornáveis tal como quando no exercício da profissão de médico. Estará alguém acima do que é dever? E como reclamar os direitos se sim? Todos devemos responder a isto.

É na perspectiva e só do que referi em último, que me dirijo a vós. Creio que uma sensibilização geral e tomada de consciência por parte dos colegas estudantes (mormente aos faltosos no aspecto), um “puxar de orelhas” aqui e ali, abordar este ou aquele responsável, estabelecer “esta ou aquelas medidas” (como e nomeadamente o vigiar quando em vez os utentes da biblioteca por parte dos colaboradores que nela ficam), podem ser caminhos que ponham cobro a esta triste situação de ausência de melhor clima ao estudo, sendo que este melhor clima deve ser uma garantia de todos e de cada um na comunidade dos colegas estudantes. Eu sugeriria mesmo, a título de mera ideia, a uma maior atenção quanto aos novos estudantes que ingressem na faculdade, numa espécie de curso dado nas boas vindas à casa, de forma que ganhem efectiva noção do local de trabalho que integram, da atitude que se espera proliferar e que se deseja favorável à investigação e formação de homem e de mulheres. Aliás, atitude esta que sei muitos lutam para e fazem realidade no seu dia-a-dia, e que também muitos já lutaram durante séculos no sentido de ver real.

Deixando à vossa consideração todo o explanado, e sem mais de momento subscrevo avivando os meus votos de maiores e sempre extremas felicidades pessoais e profissionais a todos.

Mui atenciosamente,

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Victoriano PJ Costa

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